A 30.Jul.1829 Mendelssohn começou a compor a sua Sinfonia nº 3, que também foi por ele designada e ficou a ser conhecida como “A Escocesa”. Poderia parecer mais uma sinfonia, escrita por um compositor qualquer – mas não é. Mendelssohn é um dos compositores mais ouvidos e mais talentosos de sempre. Tanto, que muitos críticos dizem que ele é no séc. XIX o equivalente a Wolfgang Amadeus Mozart. Começou a compor aos 9 anos e “atreveu-se” ainda jovem a redescobrir a obra de um compositor que então estava no esquecimento e para quem ele reclamou ser o maior nome da História da Música: nada menos que Bach, que desse essa “descoberta” é um dos mais reconhecidos mestres da música erudita.
Felix Mendelssohn (cujo nome completo é Jakob Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy) nasceu em Hamburgo e viveu entre 1809 e 1847. Apesar da sua curta vida de 38 anos, deixou escritas cerca de 100 canções (lieder), diversos oratórios, dois concertos para piano e um concerto para violino – para além da Suite Sonho de Uma Noite de Verão (de que faz parte a famosa Marcha Nupcial) e as sinfonias que dedicou às suas viagens, casos da também célebre Sinfonia “Italiana” e desta Sinfonia nº 3, em Lá menor, op.56, a “Escocesa”.
Orquestra Filarmónica de Berlim / Maestro Herbert von Karajan
Antonio Vivaldi morreu em 1741, em Veneza – cidade em que tinha nascido 63 anos antes. Foi a preparação para a vida de sacerdócio que o levou a aprender música e foi como professor de um orfanato de raparigas que começou a praticar a sua arte de violinista. Apesar de hoje ser recordado essencialmente pelos seus brilhantes concertos de cordas – como é o caso do conjunto de quatro concertos “As Quatro Estações” – Vivaldi considerava-se principalmente um compositor de ópera. Criou centenas de concertos e sonatas e dezenas de óperas. Apesar de os seus detractores o acusarem de fabricar música como quem fabrica pão (aludindo à profissão de padeiro de seu pai), foi na sua época muito admirado pelo público e pelos peritos – entre os quais Bach. Mas umas décadas após a sua morte a sua música caíu no esquecimento. O estilo genuinamente barroco de Vivaldi não resistiu à ‘coqueluche’ do classicismo. Permaneceu ignorado até ao princípio do séc. XX. Hoje é recordado por todos os públicos e tocado por todas as orquestras – e não só as suas “4 Estações”…
Enrique Granados nasceu em 27 de Julho de 1867, na cidade catalã de Lérida. Teve em vida grande sucesso, logo desde quando, aos 16 anos, ganhou um importante prémio com a interpretação da Sonata para Piano nº 2 de Schumann. O seu talento como pianista valeu-lhe começar a dar concertos públicos e deslocar-se depois para Paris para continuar os estudos. Por lá aprendeu muito durante 3 anos – e regressou em boa hora à sua Catalunha. Em Barcelona, Granados foi muito aclamado como concertista. E depressa ganharam popularidade as suas composições – principalmente as suas canções para voz e piano e as diversas obras para piano que escreveu. A obra-prima de Enrique Granados é a suite para piano "Goyescas", escrita em 1911, por inspiração em quadros de Goya. Nesta obra, muita influenciada por Liszt, Granados atingiu o ponto alto da inspiração. A Academia Nacional de Música de Paris propôs-lhe transformar as Goyescas numa grande ópera. Estalou entretanto a Grande Guerra e o projecto ficou adiado. A ópera viria a surgir na América. Granados cedeu a obra ao Metropolitan Opera House de Nova Iorque, que a levou à cena em 1916, sob a direcção do próprio compositor. Mas esta estreia foi fatídica para Enrique Granados. No regresso de Nova Iorque, o navio em que viajava foi bombardeado por um submarino alemão. O compositor e sua mulher morreram afogados no Canal da Mancha. Para a História ficaram as magníficas composições de Enrique Granados. Para além das Goyescas, o compositor tem sido muito lembrado – e tocado – por causa das suas famosas Danças Espanholas. Compostas para piano, mas perpetuadas também (e talvez principalmente) por variadas interpretações de grandes guitarristas.
. SOM DO PROGRAMA (Música: 4min00 / Total: 6min23)
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No dia 26 de Julho de 1882, Richard Wagner estreou uma das suas mais significativas obras, num extraordinário teatro que ele próprio tinha construído. Era um homem de personalidade egocêntrica e teve vida turbulenta e ideias radicais, não só quanto à música, mas também em assuntos tão diversos como a religião e a pureza racial. Tendo-se apropriado do dinheiro e das mulheres dos seus amigos como se a sua condição de génio tudo permitisse, Wagner viveu em mais de uma dúzia de cidades da Europa – por vezes fugido de credores impacientes ou governos enfurecidos. Era anti-semita e xenófobo fanático e os seus caóticos panfletos viriam a ser muito admirados pelo ditador Adolf Hitler. Apesar deste carácter controverso, Richard Wagner teve um papel primordial na cultura europeia do séc. XX. Revolucionou a ópera, que com ele passou a ser o chamado “drama musical” – combinação perfeita de música, poesia, dança e artes visuais. De entre as suas muitas óperas importantes, Parsifal é um exemplo acabado desta visão multidisciplinar da ópera. Parsifal, ópera baseada na lenda medieval do “louco inocente” com o mesmo nome, é um drama místico religioso. Tem por tema o confronto entre a sensualidade e a espiritualidade, mas também entre a realização pessoal e a lealdade. Foi a obra que Wagner mais demorou a compor: só a concluiu depois de 20 anos de a ter projectado. No dia 26.Jul.1882, Parsifal foi finalmente apresentada no Teatro que o próprio Wagner construiu para ter as condições ideais para a ópera: o Teatro do Festival de Bayreuth. 7 meses depois o compositor morreu em Veneza.
Lembramos hoje a mais conhecida e popular obra de Mozart: a Sinfonia nº 40. Faz hoje anos – foi no dia 25 de Julho de 1788 – o prodigioso compositor de Salzburgo escrevia as últimas notas e fazia a definitiva revisão desta sinfonia. Foi para ele a nº 40 – e, respeitando a ordem de transcrição da partitura, ficou a ser Sinfonia nº 40, K.550. A sinfonia, que bem traduz a dupla força de alegria e dramatismo da obra de Mozart, viria a estrear no ano de 1791 – precisamente o ano da morte do compositor. E, curiosamente, na estreia a direcção de orquestra coube àquele que se diz ter sido o maior rival e inimigo do genial Wolfgang Amadeus: o mestre de capela Antonio Salieri. Apesar de Mozart ter sido visto, na sua época, como filho dilecto dos deuses e pasto apetecido do demónio, a verdade é que a regência de Salieri na estreia não deu azar a esta Sinfonia nº 40: 200 anos depois, já no final do séc. XX, ela foi objecto de uma interpretação que a aproximou da música ligeira, pelo espanhol Valdo de los Rios. E abrilhantou o extraordinário filme "Amadeus", biográfico de Wolfgang Amadeus Mozart. Lembre-se que Mozart compôs em apenas 6 semanas as suas últimas três sinfonias: as nºs 39, 40 e 41. As três sinfonias são, talvez pela quase simultaneidade da sua criação, tidas como uma trilogia – mas a verdade é que são distintas entre si… tanto quanto se pode dizer que há um estilo divergente em alguma das obras de Mozart…
* Orquestra de Câmara Europeia, sob a direcção de Sir Georg Solti
A 24 de Julho de 1921 nasceu o tenor Giuseppe di Stefano. Nasceu numa pequena aldeia perto de Catânia, na Sicília e os pais encaminharam-no para um seminário para que ele viesse a ser monge jesuita. Não seguiu a vida do convento, mas no seminário educou a voz que veio a dar-lhe um lugar na História. Di Stefano distinguiu-se pela sua excelente dicção, pelo timbre único da sua voz e em particular pelo preciosismo com que cantava passando dos fortes aos pianíssimos. Falando dele, Sir Rudolf Bing disse tratar-se da mais bela voz que tinha ouvido sair de um ser humano. E Pavarotti treinou a modulação da sua voz tendo a de di Stefano como referência. Giuseppe di Stefano, que nos anos 60 foi o tenor escolhido para acompnhar Maria Callas numa tournée mundial, quando a diva do bel canto quis regressar à grande ribalta da ópera, fez uma longa carreira até à sua última performance, em 1992 Tinha começado em 1946 – e feito a sua estreia no Metropolitan de Nova Iorque em 1948, interpretando o papel do Duque de Mântua nos 3 actos da ópera Rigoletto, de Verdi.
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Quarteto "Bella Figlia dell'Amore" (Rigoletto, G. Verdi)
com Maria Callas, Tito Gobi e Adriana Lanzarini
Orquestra e Coro do Teatro La Scala / Maestro Tullio Serafin
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AMANHÃ Wolfgang Amadeus Mozart - Sinfonia nº 40 (1º and.)
"Quando eu morrer, morre a guitarra também. O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele. Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer.”
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SOM DO PROGRAMA
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A 23 de Julho de 2004 – faz hoje 3 anos – morreu em Lisboa Carlos Paredes, o mais virtuoso dos guitarristas portugueses. Tinha 79 anos, o filho do Choupal de Coimbra, mas também filho de Lisboa e do Tejo, a quem chamaram “o homem dos mil dedos”. Influenciado pela música de câmara da Renascença e pelo fado de Coimbra, Carlos Paredes desenvolveu ao longo dos anos um estilo pessoal que, a partir da tradição e apoiado no vigor de execução, mitificou um instrumento: a guitarra portuguesa. O bisavô já tocava guitarra. O avô Gonçalo também. E o pai, Artur Paredes, foi um dos mais importantes renovadores da guitarra portuguesa em Coimbra na primeira metade do século. Neste ambiente cresceu Carlos Paredes, que aos 10 anos estudava violino, mas pela vida fora fez da guitarra portuguesa mais um membro do seu próprio corpo, mais um corpo da portucalidade genuína. Homem de extrema modéstia, recusou ser profissional da guitarra, dizendo que gostava demasiado da música para viver às custas dela e intitulando-se um simples “músico popular urbano”. Os críticos e especialistas dedicaram-lhe um outro adjectivo: “genial”. "Quando eu morrer, morre a guitarra também. O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele. Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer.”
Morreu a 23 de Julho de 2004. Mas, como disse Fernando Pessoa, “morrer é apenas deixar de ser visto”. E a guitarra portuguesa sobrevive. Enquanto Carlos Paredes for ouvido.
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AMANHÃ
Giuseppe di Stefano - Quarteto "Bella Figlia dell'amore" (Rigoletto, Verdi)
com Maria Callas, Tito Gobbi e Adriana Lazzarini Maria Callas
Orquestra e Coro do Teatro La Scala, Maestro Tullio Serafin
Morreu em 2001 e faria hoje 87 anos o “enorme” nome do violino que foi Isaac Stern. Virtuoso deslumbrante, trabalhador incansável da arte do violino, Isaac Stern emprestou a sua técnica e sensibilidade musical incomparáveis a quase todos os grandes compositores da grande música. Gravou ao todo, mais de cem discos. Mas além de extraordinário violinista, Isaac Stern foi também um cidadão de elevado sentido humanista: Ficou célebre a sua recusa de tocar com o maestro Herbert von Karajan, em virtude da simpatia nazi do célebre regente da Filarmónica de Berlim, um maestro com quem qualquer músico pagaria para tocar… Honrando a sua ascendência judia, Stern deu graciosamente um memorável concerto em Jerusalém em 1967, na comemoração da paz que se seguiu à Guerra dos 6 Dias. Executou magistralmente um Concerto para Violino e Orquestra de Mendelssohn, acompanhado pela Orquestra Filarmónica de Israel, sob a direcção de Leonard Bernstein. A performance, de resto, fez parte do filme “Uma Jornada em Jerusalém”. Dos inúmeros concertos e peças que gravou – com as maiores orquestras e os maiores músicos do século – escolhemos para ouvir hoje duas sonatas de Brahms, um dos compositores que Isaac Stern mais incluíu no seu repertório.
Isaac Stern, que nasceu na Bielorrússia, foi levado para San Francisco com menos de um ano – e foi naquela cidade americana que fez toda a sua aprendizagem musical. Deu o seu primeiro concerto com orquestra aos 11 anos e aos 23 teve um estrondoso sucesso no mais faustoso e exigente palco dos Estados Unidos, o Carnegie Hall. Foi mesmo, durante muitos anos, presidente do Carnegie Hall este prodigioso músico que, tendo sido o único grande violinista que fez toda a sua formação na América, viu a sua condição de “cidadão do mundo” reconhecida quando o governo chinês, para assinalar a sua abertura política em 1979, o convidou expressamente para se deslocar à China e interpretar um momento histórico que ficou registado no célebre documentário “De Mao a Mozart”.
Sonata nº 2 em Lá maior, op. 100, para Violino e Piano Sonata para Clarinete em Mi bemol M, op. 120, nº2 (transcrita para violino por Brahms)
. Faz hoje 121 anos que, na cidade de Elizavetgrad, decorreu o último concerto do mais virtuoso pianista de sempre: Franz Liszt. Nesse dia 19.Jul.1886 Liszt tinha 75 anos. Estava em plena actividade, mas viria a morrer dias depois, na cidade de Bayreuth – cidade que havia de se tornar célebre pela vida dele e também pela obra do seu dilecto genro, Richard Wagner.
Depois de uma juventude em que deslumbrou todos (incluindo Beethoven e Schubert) Liszt fez no piano o que Paganini tinha feito com o violino: levou a execução do instrumento ao extremo do virtuosismo e compôs peças e obras pianísticas que continuam a ser as de mais difícil execução. Mas Franz Liszt não foi só um virtuoso pianista e genial compositor. Também ensinou muitos e ilustres alunos; e foi um homem de extrema generosidade para todos os que procuravam nele apoio técnico ou inspiração musical. Donizetti, Berlioz, Schumann, Wagner e Verdi são apenas os mais conhecidos... para não falarmos do "nosso" Viana da Motta, mais um compositor a quem Liszt acrescentou técnica e brilho. O mesmo brilho que a História conservou dele próprio, como verdadeiro artífice da magia do piano. . Orquestra Pops de Cincinatti Maestro Erich Kunzel .
Assinalamos hoje os 150 anos sobre a morte do compositor mais tocado em todo o mundo. Mas não se admire se o não conhecer.
Carl Czerny morreu a 15 de Julho de 1857, em Viena, cidade em que tinha nascido 66 anos antes. Com as lições do pai, aos dez anos já tocava de cor um vasto repertório clássico, no seu instrumento preferido: o piano. Mais tarde foi, durante 3 anos, aluno de Beethoven.
Czerny não gostava de dar concertos em público. Dedicou-se principalmente à composição e ao estudo e ensino da música – para o que, dizem, tinha excepcionais dotes. O seu mais célebre aluno foi Liszt. Mas não foi o único: os estudos de Czerny para piano são passagem obrigatória em todas as escolas de música e aos diversos níveis da aprendizagem do instrumento.
Estudos op. 740, nºs 12 e 13, para Piano Pianista Serg van Gennip
Faz hoje anos que morreu uma grande senhora. Era afinal pouco mais que uma menina. Ou talvez nunca tenha podido ser menina…
No dia 17.Jul.1959 um médico de Nova Iorque confirmou o óbito de uma mulher cujo verdadeiro nome era Eleanor Fagan Gough. Os fãs tratavam-na por Lady Day. Mas foi ainda outro o nome por que ficou conhecida aquela que muitos consideram a maior de todas as cantoras de jazz. Billie Holiday era, aos 14 anos, prostituta. Admira-se, Caro Ouvinte? Pois olhe que não foi isso o pior que lhe aconteceu. Logo quando nasceu, ficou sem o pai. Ele, então com a bonita idade de 15 anos, tocava guitarra e banjo e um dia foi-se embora, atrás de uma banda de jazz. A bebé Billie e sua mãe, com a não menos airosa idade de 13 anos, ficaram entregues a si próprias.
Assim começou a vida de Billie Holiday. Mas, para uma menina negra, pobre e americana, sempre poderia vir pior. E veio: aos 10 anos, Billie foi violentada por um vizinho e acolhida – ela, não ele – numa casa de correcção de menores. Aos 12 anos saíu e foi lavar escadas para sobreviver. Só aos 14 caíu na prostituição. Um dia, Billie e a mãe receberam ordem de despejo. A miúda foi a um bar e ofereceu-se para dançar. Um desastre. O pianista do bar teve pena e perguntou-lhe se sabia cantar. No final da noite Billie Holiday assinava o seu 1º contrato de trabalho, como cantora. Tinha 15 anos. Depressa chegou a celebridade. Nos 10 anos seguintes, gravou mais de 50 canções com Lester Young, cantou com Louis Armstrong, apresentou-se com as orquestras de Duke Ellington, Teddy Wilson, Count Basie e Artie Shaw. Mais do que tudo isso, Billie Holiday deixou em inúmeros discos, que não param de ser re-editados, a inimitável voz etérea, levemente rouca, de profunda emocionalidade. Como no título da autobiografia, que publicou pouco antes de morrer: Lady Sings the Blues. . Canção do programa: Let's Call the Whole Thing Off
Faz hoje precisamente 18 anos, no dia 16.Jul.1989 portanto, o New York Times dizia na sua 1ª página: “Morreu o maior de todos os maestros”.
Herbert von Karajan tornou-se, com efeito, num ícone da direcção de orquestras. Regeu durante 60 anos, 35 dos quais à frente da orquestra que, com ele, mais prestígio granjeou entre todas: a Filarmónica de Berlim. Tido (talvez por isso) como “o mais alemão” dos maestros, Karajan era austríaco. Nasceu e viria a morrer na bela cidade de Salzburgo, precisamente a mesma em que dois séculos antes tinha nascido Mozart. A associação da sua pessoa aos alemães vem do seu carácter e da ligação com a grande orquestra de Berlim. E não só: Karajan ficou igualmente célebre – mas pela negativa – por ter sido simpatizante do partido nazi. Claro que isso lhe valeu antipatias, severas críticas e atitudes de músicos como os grandes violinistas Isaac Stern e Itzhak Perlman, que se recusaram terminantemente a gravar com ele. Herbert von Karajan é muitas vezes indicado como o grande intérprete de Beethoven – e a verdade é que merece essa honrosa referência. Mas, embora tenha sido criticado por desprezar praticamente todos os criadores de após 1945, interpretou muitos outros compositores. É o caso de Johannes Brahms, o prodigioso compositor de quem disseram ser o legítimo sucessor do grande Beethoven – e que puxou pelo orgulho alemão a ponto de na Alemanha se dizer que a grande Música assenta em 3 fundamentais pilares começados pela letra “B”: Bach, Beethoven e Brahms.
3º andamento do Concerto em Ré Maior para Violino e Orquestra, op. 77, de Johannes Brahms. Orquestra Filarmónica de Berlim / violinista Anne-Sophie Mutter / Herbert von Karajan.
. 14 de Julho, data que a tomada da Bastilha fez perpectuar como dia da nação francesa, é ocasião de se dizer: Vive la France! .
. Nada melhor para saudarmos a pátria das luzes e grande panteão da cultura europeia, do que recordarmos A Marselhesa, hino e ícone da bravura dos franceses, extraordinária obra musica a que Hector Berlioz deu esta magistral orquestração: A Marselhesa, que ouvimos interpretada segundo o arranjo de Hector Berlioz, foi proclamada como hino nacional da França no dia 14.Jul.1795. Trata-se de uma peça musical composta por Claude Rouget de Lisle, oficial do exército francês, cujo ambiente de marcha heróica (reforçado pelo poema que lhe está associado) foi acolhido pelos franceses com um simbolismo difícil de encontrar paralelo em qualquer outro hino nacional. A monumentalidade deste arranjo orquestral, que quase faz a figura do orquestrador remeter para segundo plano o tenente Rouget de Lisle, verdadeiro autor da Marselhesa, é suficiente pretexto para falarmos de Hector Berlioz – um compositor cuja vida passada entre sucessos e tormentos faz jus à ideia de que o artista é sempre um sofredor.
Berlioz, que viveu entre 1803 e 1869, é um dos mais vivos símbolos do artista romântico, com toda a grandeza que o romantismo implica nos homens da arte e da cultura do séc. XIX: génio assombrosamente original, vida cheia de contratempos, amores obsessivos e perniciosos, talento oscilando entre a obra genial e a incompreensão de quase todos. Berlioz quis aprender música enquanto jovem – mas a família mandou-o estudar medicina. Só aos 22 anos conseguiu entrar no Conservatório, mas teve de concorrer 4 vezes ao Prémio de Roma para conseguir vencê-lo. Apaixonou-se perdidamente pela actriz irlandesa Harriet Smithson, mas só depois de seis anos de sofrimento casou com ela… e depois foram os dois infelizes. Uma das principais obras de Hector Berlioz, A Morte de Cleópatra, foi a última das três tentativas falhadas para ganhar o Prémio de Roma. O juri recusou energicamente atribuir-lhe o prémio, para não mostrar apoio oficial a um jovem que revelava “tendências tão perigosas…”
Do longo padecimento amoroso pela actriz Harriet Smitson nasceu a obra-prima de Berlioz: a Sinfonia Fantástica. A intenção era descrever aquele amor obsessivo, em que a amada aparece e reaparece em cada andamento, como o que o próprio compositor chamou uma “ideia fixa”, O primeiro andamento, dizia ele, descreve “intimidades passionais” e “sonhos sem rumo”, seguidos de uma “paixão frenética com todas as suas explosões de ternura, ciúmes, fúria, temor, etc.” No segundo andamento, o protagonista assiste a um baile, mas a sua idée fixe continua a rondá-lo… e faz o seu coração palpitar durante uma brilhante valsa… O terceiro andamento”Cena do Campo”, contém “pensamentos de amor e esperança, perturbados por obscuras premonições”. O quarto andamento é dominado por uma visão provocada pelo ópio: o protagonista imagina que matou a sua amada e que marcha para o patíbulo, onde assiste à sua própria morte na guilhotina. No final, a visão transforma-se num tempestuoso sabbath de bruxas, em que o motivo da “ideia fixa” se confunde com o dies irae da missa de defuntos.
Orquestra de Cleveland Maestro Lorin Maazel .
La Marseillaise
Allons enfants de la Patrie Le jour de gloire est arrivé Contre nous de la tyrannie L'étendard sanglant est levé (bis) Entendez vous dans les campagnes mugir ces féroces soldats Ils viennent jusque dans vos bras, égorger vos fils, vos compagnes Aux armes citoyens ! Formez vos bataillons ! Marchons, marchons, qu'un sang impur abreuve nos sillons
Que veut cette horde d'esclaves De traîtres, de Rois conjurés ? Pour qui ces ignobles entraves, Ces fers dès longtemps préparés ? (bis) Français ! pour nous, ah ! quel outrage ! Quels transports il doit exciter ! C'est nous qu'on ose méditer De rendre à I 'antique esclavage !
Quoi ! des cohortes étrangères Feraient la loi dans nos foyers ! Quoi ! ces phalanges mercenaires Terrasseraient nos fiers guerriers (bis) Grand Dieu ! par des mains enchaînées Nos fronts sous le joug se ploieraient De viIs despotes deviendraient Les maîtres de nos destinées !
Tremblez, tyrans ! et vous, perfides, L'opprobe de tous les partis, Tremblez ! vos projets parricides Vont enfin recevoir leur prix (bis). Tout est soldat pour vous combattre, S'ils tombent, nos jeunes héros, La terre en produit de nouveaux Contre vous tout prêts à se battre
Français ! en guerriers magnanimes Portez ou retenez vos coups. Epargnez ces tristes victimes A regret s'armant contre nous (bis). Mais le despote sanguinaire, Mais les complices de Bouillé, Tous ces tigres qui sans pitié Déchirent le sein de leur mère
Nous entrerons dans la carrière, Quand nos aînés n'y seront plus Nous y trouverons leur poussière Et les traces de leurs vertus. (bis) Bien moins jaloux de leur survivre Que de partager leur cercueil, Nous aurons le sublime orgueil De les venger ou de les suivre.
Amour sacré de la Patrie Conduis, soutiens nos bras vengeurs ! Liberté, Liberté chérie ! Combats avec tes défenseurs (bis). Sous nos drapeaux, que la victoire Accoure à tes mâles accents, Que tes ennemis expirant Voient ton triomphe et notre gloire
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AMANHÃ
Johannes Brahms - Concerto em ré maior para violino e orquestra, op. 77
A 13 de Julho de 1951, numa sexta-feira como hoje, morreu em Los Angeles o compositor austríaco Arnold Schönberg. Um azar nada original, para um compositor e teórico que construíu uma obra muito criativa e revolucionária na Música. Schönberg deu à música do início do séc.XX o “mote” para o que na época parecia ser uma extravagante desafinação (por vezes causando mesmo escândalo entre a crítica). Mas o que muitos diziam ser um estilo “estranho”, fez escola e é hoje de conhecimento imprescindível para os estudiosos da música. O dodecafonismo, também chamado “música serial”, utiliza os doze tons da escala cromática, sem qualquer hierarquia. Foi uma opção inovadora de Schönberg, um músico do pós-romantismo no limiar do modernismo. O estilo não foi aceite pacificamente – mas veio a transformar-se numa das mais marcantes e influentes características do séc. XX. No final da vida, quando nos Estados Unidos, Schönberg tentou o que parecia impossível: a síntese entre a música serial e a tonalidade clássica. A sua vida fica, acima de tudo, como testemunho de um homem de cultura. Além de compositor, foi também pintor e autor de notáveis tratados sobre harmonia musical.
Orquestra Sinfónica de Peabody Peça nº 5 de "5 Peças para Orquestra", op. 16
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AMANHÃ
Hector Berlioz - Sinfonia Fantástica, op.14 + La Marseillaise
. Orquestra das Universidades de Mout Holyoke e Harvard Maestro Kimberly Dunn . 12 de Julho do ano 1900 foi a data de apresentação, em Paris, do Requiem de Gabriel Fauré. Tinha 55 anos este homem estudioso e culto, que em criança, modesto e sem mestres, fazia improvisações no órgão da igreja da sua cidade. Apesar da sua origem, conseguiu entrar na famosa Escola Niedermeyer de Paris aos 10 anos. Foi aluno de Camille Saint-Saens e aprendeu muito com ele. Depois, viajou para ouvir os grandes compositores da época. Wagner era quem dava o tom. Ficou impressionado com ele… mas preferiu ser fiel aos valores culturais do seu país. Gabriel Fauré tornou-se um dos obreiros do modernismo na música francesa. Com música de harmonia cuidada e melodia imaginativa e flexível, compôs canções e peças para piano que punham a França na continuação da melhor tradição de Schubert e Schumann. Mas a obra-prima de Fauré foi o Requiem op.48. Em vez dos desesperos do juizo final, como em outros, a música deste Requiem traz a paz do dies irae, a promessa do paraíso eterno…
Três gigantes da música do séc. XX. A homenagem é para todos. A 11 de Julho morreu um grande americano – músico desde a alma, compositor querido a variados gostos de sucessivas gerações. Vão hoje aqui cantá-lo um dos maiores cantores negros da América, nascido a 4 de Julho… E uma “Senhora” candidata a “Voz do Século”, também americana, mas nascida a 25 de Abril.
Trazemos música de George Gershwin, filho de imigrantes judeus que transformou a sua condição de humilde rapaz sem formação musical, compondo melodias que foram e são das mais cantadas ainda hoje. Começou por ganhar a vida compondo música publicitária, contratado a peso de ouro quando tinha apenas 16 anos. Mas rapidamente foi mais longe: Comédias musicais que atraíram multidões; canções inesquecíveis para o jazz; obras de concerto; e uma ópera que foi e continua a ser um verdadeiro símbolo. O rapaz humilde e talentoso nunca esqueceu a classe donde provinha, nem a sensibilidade aos problemas dos negros americanos.
A ópera Porgy and Bess, narrativa da vida dos negros de um bairro pobre, correu o mundo a deliciar o ouvido dos melómanos. Música de Jazz? Música clássica? Música sem restrições de estilo e, sobretudo, sem tempo de validade. De entre as inúmeras versões (orquestrais e vocais) e as grandes vozes que cantaram Porgy and Bess, escolhemos duas a que ninguém põe reservas: Ella Fitzgerald e Louis Armstrong.
SOM DO PROGRAMA (Locução: 1min58 / Música: 5min00)
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A 10 de Julho de 1839 morreu em Paris o compositor e guitarrista espanhol Fernando Sor. Morreu fora da sua Espanha por opção: A França foi o país que lhe deu maiores motivos de sucesso, de alegrias na carreira de músico – e também mais hesitações de consciência. José Fernando Macarurio Sors nasceu em Barcelona, no dia de S. Valentim do ano de 1778. Estava-lhe destinada a vida militar, que era a de vários dos seus familiares e que começou por ser a sua escolha. Mas um dia o pai levou-o à ópera – e Fernando percebeu que não podia ser senão músico. Escolheu a guitarra – um instrumento que na época era tido como menor e usado praticamente só em tabernas. Com a guitarra, instrumento genuinamente espanhol, começou a compor música de exaltação patriótica. A motivação era a opressão das tropas de Napoleão. Mas Fernando Sor acabou por não resistir à sedução francesa. Quando, em 1813, Espanha expulsou definitivamente o invasor, ele seguiu o caminho de muitos outros artistas seus compatriotas: Mudou-se para Paris. Na capital francesa reuniu-se a um outro grande guitarrista clássico espanhol, Dionisio Aguado, e com ele começou um trilho profissional que depois o levou à Inglaterra e à Russia. Na Inglaterra teve sucesso como compositor de ópera e bailado. Na Rússia atingiu o auge com o ballet que adornou a coroação do czar Nicolau I. Terminou a vida em Paris, retirado do contacto com o grande público. Mas foi nesse período que compôs as suas melhores obras. E também o Método para Guitarra, obra didáctica que ainda hoje é um precioso guia para a aprendizagerm da guitarra clássica nas escolas de música.
Pelo Método de Guitarra estudou, certamente, o jovem guitarrista Francisco Franco, aluno da Academia de Música do Fundão, que hoje nos traz a música de Fernando Sor.
OUVIR O PROGRAMA (Locução: 1min05 / Música: 2min50)
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Para pintar um belo quadro nem sempre são precisos pinceis. Uma boa narrativa, um poema… E porque não a música? Mestre nessa arte foi o nosso aniversariante de hoje.
Ottorino Respighi nasceu em Bolonha a 9 de Julho de 1879. Estudou música com Rimski-Korsakov e tornou-se exímio na arte da orquestração. Transcreveu arias e danças antigas e obras de Monteverdi, Bach e Rossini – e foi Director da Academia de Santa Cecilia, a mais prestigiada escola de música de Roma. Mas Respighi não foi só um estudioso e homem de grande cultura musical – foi também compositor, e de obras de variados estilos: música para piano, música de câmara, canções, bailados, obras corais – para além da ópera, em que se destacou, por exemplo, com a comédia lírica Belfagor. Todavia, o que valeu a Respighi grandes auditórios e a fama que venceu o tempo e o traz até hoje num lugar cimeiro da Música foi a sua música sinfónica de cariz peculiar: As suites “As Fontes de Roma”, “Os Pinheiros de Roma” e “Festival Romano”. Todas estas obras têm uma linguagem pictórica – como se a batuta fosse um pincel e a partitura fosse uma tela…
* Orquestra Filarmonia / Maestro Herbert von Karajan
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AMANHÃ
Fernando Sor - Variações sobre um Tema de A Flauta Mágica
7 de Julho é a data de aniversário de um nome grande na História da Música. Um artista ímpar, um homem único, uma alma de dimensão enorme.
Gustav Mahler nasceu numa pequena aldeia da Boémia, hoje na Áustria, e viveu 51 anos, de 1860 a 1911. Quando morreu o irmão mais velho, Gustav tomou conta da família que o pai, alcoólico, não conseguia governar. Tornou-se então músico profissional. Tinha 6 anos de idade. Na viragem para o séc. XX, o mundo vive uma revolucionária transformação: Freud descobre a psicanálise e faz da psicologia uma ciência; os irmãos Lumière inventam o cinema; George Eastman faz da fotografia uma arte popular; Daimler e Benz inventam o automóvel… A música gerou representantes das profundas transformações da consciência humana. Mahler foi o grande porta-voz dessa nova atitude. Magro, baixo e atlético, Mahler foi durante sua vida um homem reservado e misterioso e de poucas palavras – mas de muita acção. Os seus contemporâneos quase não o conheciam como compositor, pois foi como maestro que adquiriu fama e fortuna. Dono de uma enorme intuição estética e um profundo senso de conjunto, Mahler submetia os músicos da orquestra a longos e exaustivos ensaios, repetindo quantas vezes fossem necessárias as passagens que não satisfaziam os seus altos padrões musicais. A música de Mahler reflecte com particular mestria todas as facetas de sua personalidade: A busca incessante pelo ideal da beleza, pela harmonia, pela renovação da vida e pela salvação do mundo. As Nove Sinfonias que compôs são disso um cristalino espelho. Se logo na 1ª Sinfonia – denominada Titã – o universo sonoro de Mahler parece estar todo exposto, cada uma das sinfonias seguintes é um hino à perfeição musical. Mas a mais pessoal, a mais característica e representativa da identidade do compositor é a Sinfonia nº 5. Esta que hoje ouvimos.
* Chicago Symphony Orchestra / Maestro Claudio Abbado
CANARIO (FANTASIA PARA UN GENTIL-HOMBRE) Joaquin Rodrigo
. Joaquin Rodrigo nasceu em 1901 e morreu em 1999. Morreu no dia 6 de Julho, ou seja, há precisamente oito anos – e tinha nascido no dia de Santa Cecília, padroeira da música. . Na sua terra natal, Sagunto (na província de Valência) houve um surto de difteria que vitimou mortalmente muitas crianças e de que resultou a cegueira de Joaquin Rodrigo. Corria o ano de 1905 e Joaquin tinha apenas 4 anos. Ter ficado cego impeliu o desditoso Joaquin para o seu maior talento: a música. Graças a esse talento e a uma obra enorme, no final da vida tinha recebido nada menos que 8 condecorações e Medalhas Honoríficas, das mais notáveis atribuídas em Espanha. Mas não só: foi doutor honoris causa por 4 universidades espanholas, pela Universidade da Califórnia e pela Universidade inglesa de Exter. E mereceu do governo francês 3 das mais elevadas condecorações, não só na arte e na cultura, mas também como cidadão. Enquanto jovem, Joaquin Rodrigo tinha, graças a bolsas de mérito, estudado música em Paris – onde foi dilecto aluno do compositor Paul Dukas – e na Alemanha, de onde teve que fugir quando estalou a II Guerra Mundial. Nessa fuga, trazia consigo o manuscrito da obra que o imortalizou: O célebre Concerto de Aranjuez. . Em 1954, Joaquin Rodrigo recebeu a responsabilidade de compor para o “gigante” da guitarra clássica Andres Segovia uma obra destinada a estrear no ano seguinte em S. Francisco da Califórnia. Daí resultou a obra em que hoje o lembramos: Fantasia Para Um Gentil Homem.
* "Canario", excerto da obra Fantasia para um Gentil-Homem * Guitarrista Narciso Yepes, com a Orquestra da Radiodifusão e Televisão Espanhola .
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AMANHÃ Gustav Mahler - Sinfonia #5, em Dó sustenido menor
Este programa é dedicado a um dos ícones do séc.XX – uma mulher que em apenas meia dúzia de anos pôs o mundo inteiro em êxtase. Faz hoje anos que disse adeus ao público, a diva que um dia “morreu” e “ressuscitou”…
No dia 5.Jul.1965, o requintado e exigente palco de Covent Garden, em Londres, assistiu à última actuação da diva das divas: Maria Callas. A ópera Tosca, de Puccini, foi a última interpretação de uma mulher que não era uma pessoa comum; de uma filha de imigrantes gregos que nasceu em Nova Iorque mas viria a renunciar à cidadania americana; de uma americana “de 2ª” que deixou a América com fome e regressou dominando os públicos por quem foi detestada e idolatrada. Ánna María Cecilía Sofía Kalogerópoulus nasceu a 2.Dez.1923. Passou a ser Maria Callas em 1929, quando o pai abriu uma farmácia em Manhattan e mudou o apelido da família por motivos comerciais. Em 1937 os pais separam-se e Maria viaja para a terra dos avós, a Grécia, à procura da subsistência. E é em Atenas que faz o Conservatório e virá a debutar como profissional, em Janeiro de 1941. A ópera tinha acolhido uma voz que viria a revolucionar as regras de interpretar o canto e deslumbrar o público. Dona de uma voz que, não sendo de um timbre extraordinário, tinha no entanto uma extensão incomparável, Maria Callas mostrou, em praticamente uma década apenas, que podia interpretar todos os papeis e em todos os estilos do canto. Levou ao nível da perfeição a arte de alterar a “cor” da voz para exprimir as emoções dos personagens e transformou a arte de cantar na magia de pôr em cena a personalidade e a psicologia dos personagens… tudo com a modulação da voz. Os anos 60 foram épicos e trágicos. A personalidade bipolar fê-la variar entre o conflito aberto e a adoração dos maestros, entre as paixões tórridas de milionários e divórcios litigiosos, entre a apoteose e o colapso nos palcos, entre a paz com a sua rival Renata Tebaldi e o conflito físico entre os fãs de ambas. Em 1965 decidiu parar de cantar. Uma década mais tarde, em 1974, havia de voltar a fazer uma digressão com o tenor Giuseppe Di Stefano. Mas a voz era uma sombra do que tinha sido. O mito tinha-se desfeito naquela noite de Puccini em Covent Garden, a 5.Jul.1965…
. 4 de Julho é a data de nascimento de Louis-Claude Daquin, compositor francês que viveu entre 1694 e 1772 – portanto na era do barroco. Começou a sua vida musical como menino-prodígio que aos seis anos de idade era apresentado à corte de Luis XIV. Começava assim, cedo, a impressionar os auditórios com as suas artes de organista e cravista. Como organista, Daquin acumulou títulos importantes na época. Ainda jovem, foi nomeado organista do Rei na Chapelle Royale de Paris. Foi preferido ao ilustre Rameau no cargo de organista da Igreja de Saint-Paul. E veio a ser dos órgãos da Catedral de Notre Dame, no ano em que Lisboa sucumbia ao grande terramoto. Com fama de virtuoso e genial improvisador, Daquin foi muito admirado pela aristocracia francesa e atraíu multidões aos seus concertos. No entanto, e apesar de muitos escritos da época falarem das suas composições, a grande maioria das suas obras (vocais e instrumentais) perderam-se. Deste teclista barroco que actualmente é mais conhecido pela sua obra O Cuco, temos actualmente, sobretudo, suites para cravo. Lembremos que na sua época ainda não era utilizado o piano.
* “La Mélodieuse” interpretada pelo pianista Robert Cornman.
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A 2.Jul.1897 foi apresentada pela 1ª vez no Rio de Janeiro a ópera La Bohème, de Puccini. No dia seguinte, 3 de Julho, a ópera ia pela primeira vez ao palco na Austrália. A estreia absoluta tinha decorrido cerca de ano e meio antes, a 1.Fev.1896, no Teatro Régio de Turim, com um êxito discreto. Mas nesses 18 meses muita coisa tinha mudado: La Bohème era um estrondoso sucesso por todo o mundo. Na Europa e na América disputava-se a sua representação. Giacomo Puccini foi, ele próprio, um amante da vida boémia, que sustentou com a riqueza que o êxito da sua carreira de compositor lhe proporcionou. Óperas como Manon Lescot, Tosca ou Madame Butterfly apaixonaram nessa época públicos de toda a parte, como continuam ainda hoje a deliciar. O próprio Puccini se entusiasmou com a sua obra a ponto de fundar o Club Bohème, onde com um grupo de amigos proclamava a divisa "viver bem e comer melhor". Puccini havia de morrer triste e sem amigos, sem conseguir terminar uma obra de qualidade muito especial: a ópera Turandot. Talvez desiludido com a boémia parisiense, tal como a protagonista de La Bohème, a bordadeira Mimi, cuja doença e morte valeram a Giacomo Puccini o objectivo que se propusera: Fazer o Público "rebentar em pranto". . * La Bohème (final do 2º acto) . Montserrat Caballé; Placido Domingo; Orquestra Filarmónica de Londres / Maestro Georg Solti.
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Cristoph Willibald Gluck (1714 – 1787) . A 2 de Julho de 1714 nasceu em Erasbach, no Alto Palatinado (Alemanha) Cristoph Willibald Gluck. De uma família humilde originária da Boémia, Gluck estudou música e filosofia em Praga, no tempo em que a arte barroca tinha atingido todo o seu esplendor. Mas as suas obras nascem já sob a atmosfera do período clássico. Gluck é considerado um dos mais importantes compositores da ópera do classicismo. As suas áreas têm sido preferidas por muitos dos grandes intérpretes do canto lírico – como actualmente é o caso da mezzo-soprano Cecilia Bartoli, coqueluche da última geração da ópera, que estará brevemente em Portugal. A primeira ópera de Gluck, Artaxerxe, data de 1741. Mas a que mais tem perpetuado a sua memória é Orfeu e Eurídice. O tema mitológico dos amores de Orfeu, filho da musa Calíope, foi tratado por Gluck de forma inovadora, rompendo com as regras que os “inventores” da ópera tinham como sagradas. Dessa ópera, Orfeu e Eurídice, faz parte a Dança dos Espíritos Abençoados, de que a seguir passamos um excerto.
* Orquestra de Câmara de Estugarda / Maestro Karl Munchinger
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AMANHÃ
Puccini - La Bohème
Monserrat Caballé, Placido Domingo
Orquestra Filarmónica de Londres / Maestro Georg Solti